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Victoria's Secret e a Ilusão da Diversidade nas Passarelas

No dia 15 de outubro de 2024, a Victoria's Secret fez seu tão aguardado retorno às passarelas, após um hiato de cinco anos. O evento, que durante anos foi um marco no calendário da moda global, prometia uma nova era, trazendo diversidade ao casting e uma proposta mais inclusiva. No entanto, ao olharmos mais de perto, fica a sensação de que o desfile ainda está preso em uma visão antiquada e idealizada do que é belo, que já não ressoa com as demandas do público contemporâneo.


A promessa de inclusão no desfile de 2024 trouxe nomes como Ashley Graham, Paloma Elsesser e Devyn Garcia, mas a representatividade pareceu forçada e tímida. Os corpos fora do padrão, que deveriam ser celebrados, continuam a ser exceções em um desfile dominado por modelos que ainda seguem os antigos moldes de beleza da marca: corpos esguios e dentro de um padrão estético restritivo. A falta de modelos com deficiência e uma maior diversidade de tamanhos reforça a sensação de que a mudança é apenas superficial.

Kevin Mazur/Getty Images para Victoria's Secret

Ao trazer essa análise para as recentes semanas de moda, incluindo o atual São Paulo Fashion Week (SPFW), percebemos que a falta de diversidade nas passarelas não é exclusiva da Victoria's Secret. Apesar de alguns avanços, muitas marcas continuam limitadas a uma inclusão simbólica. Em uma análise sobre a inclusão racial no SPFW para o jornal da USP, a modelista Maria do Carmo destacou que a participação de corpos negros e indígenas nos desfiles ocorre mais por pressão do evento e motivos comerciais do que por um compromisso genuíno com a representatividade. Segundo ela,

"A indústria da moda foca na lucratividade antes da humanidade e, por essa razão, ainda está distante das pautas sociais" .

Essa visão crítica levanta questões importantes sobre o verdadeiro comprometimento da indústria da moda com as causas sociais. Assim como a Victoria's Secret se vê obrigada a adaptar seu casting para tentar reconquistar relevância, outras grandes marcas fazem o mesmo, usando a diversidade como uma estratégia de marketing e não como uma mudança de valores. Nas passarelas europeias e brasileiras, vemos a inclusão racial, mas a presença de corpos gordos e de pessoas com deficiência ainda é mínima e, muitas vezes, simbólica.


Enquanto a Victoria's Secret e outras marcas tentam se reinventar e aparentar uma imagem de inclusão, a verdadeira mudança precisa ir além do oportunismo e alcançar um compromisso real com a diversidade em todas as suas formas. A crítica não é apenas à falta de corpos fora do padrão, mas ao fato de que a inclusão ainda é vista como uma tendência passageira, uma maneira de impulsionar negócios em vez de uma transformação profunda na indústria da moda.


Portanto, embora tenhamos testemunhado alguns avanços em relação à inclusão, a moda ainda está longe de abraçar uma verdadeira diversidade. A questão que deixo para reflexão é: a mudança será sustentável e genuína, ou continuará sendo apenas uma resposta às pressões comerciais e sociais? Até que ponto as passarelas refletem uma verdadeira ruptura com os padrões antigos ou permanecem enredadas no jogo do capitalismo?

 
 
 

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